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Conto


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SINOPSE:
O besouro investiga um crime que ocorreu na colmeia principal do bosque onde ele vive e trabalha.
Queres ajudá-lo a resolver o mistério?

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(PDF - 210Kbs)


Quando começa?

 

Era uma vez… uma história. Não uma historiazeca qualquer! Não, claro que não! Era uma vez… a minha história. Ai, desculpem lá mas nunca fui bom como apresentador, por isso peço perdão pela má introdução. Má? Bom, também não me posso punir desta maneira. Afinal eu sou… bem, quem é que eu sou? Sim, eu. Quem sou eu? Não vos vou dizer já. Não é que eu goste muito de suspense, para dizer a verdade prefiro comédias. Comédias: não gostam? Mesmo que não gostem vão ouvir a minha história para saberem quem sou. Não, não sou um bicharoco qualquer. ARGH! Que horror. Sou … bem, não sou, fui! Fui e vou contar como comecei sendo quando fui… o quê?! Não percebi nada. Perceberam? Ai sim? Ai não? Pelo sim pelo não, vou dizer de outra forma:

Era uma vez… lá estou eu outra vez com a mania dos escritores de criancinhas. Sempre a mesma coisa, a mesma conversa, a começarem as histórias com "uma donzela, bonita, dotada de todos os bons dons, um tirano, um nobre, um… rei ou príncipe, vários irmãos ou nenhum, um mordomo,… coitado, o que apanha sempre com as culpas quando o crime não é descoberto. Crime? Perguntam bem! Onde é que eu fui buscar o crime? Afinal só estava a começar a minha história! Que mania, a das pessoas, estarem sempre a fazer perguntas… assim, a este passo de lesma retardada, nem ao princípio dos princípios chegamos…

Sim, era uma lagarta… mas antes de ser lagarta ainda não tinha nascido. Não é espantoso? Eu nunca cheguei a perceber como é que se é nada antes de se ser alguma coisa… Ah! É verdade, a lagarta. Pois sim…

Ela nasceu num lindo, humilde, mas não muito rico buraquinho, pequenino, onde cabia toda a família: o papá, sempre com o seu cachimbo no canto da boca e a ler o "Insecto-Jornal", que, cá entre nós, não traz notícias nenhumas de jeito:

«Ontem, às 14 horas, junto ao tronco número 4 da ribeira 7…» (sabem ali como quem vai para o riacho 511… sim, esse mesmo) «… um gafanhoto com o seu jeito saltitão, atropelou uma larvazinha que atravessava uma erva de um lado ao outro…» - e continua.

Não é disparatado? Nem me digam. Sabem, é que o papá está velho e já não tem nada com que passar o tempo. A mamã, por outro lado, anda muito moderna. Comprou uma bicicleta de exercícios. Daquelas que, por mais que se pedale, não sai do mesmo sítio. Todos os dias vai à aula de aeróbica e já disse que está a pensar em inscrever-se no judo. Nós, claro, tentamos convencê-la do contrário, que não precisa de se preparar para enfrentar os ladrões, que nós tratamos deles… O pai não quer que ela vá porque quem não quer apanhar nas antenas é ele. Por outro lado, eu acho que é semente mal gasta. Acho que deviam aproveitar e investir, em pôr as sementes a prazo. Talvez daqui a uns anitos tivéssemos uma ou duas árvores só nossas. Ah, pois não! Está claro que não! A vida está mal para todos… menos para os ricos. Se soubessem o que o Mister Libelinha nos cobra por mês, caíam para o lado. Esse também é boa peça. Andou pelo estrangeiro, onde se ganha mais fazendo menos, passou pelo Japão, Brasil e agora possui mais de vinte árvores… só dele! E um pequeno hotel ao pé do rio Cacho… o maior da aldeia! Fora o que tem para o estrangeiro… mas a que propósito é que aquele snob foi para aqui chamado? Ainda me falta falar da minha irmã. Sim, é mais novita do que eu. É tão gira! Acho que é a lagarta mais bonita que já vi… dentro do género, é claro. Porque aparecem umas na televisão, à noitinha, no programa "Olho no Bicho", que são uma beleza. É no canal "De Mais". Claro que os meus pais não me deixam ver, mas é que eles não sabem que o vejo, porque já estão a dormir.

Mas eu estava a falar da minha irmã, não é? Pois ela nasceu há pouco tempo. Deve fazer daqui a alguns minutos cinco horas. Mas a verdade é que eu não gosto nada de crianças. Não sei, estão sempre com caras parvas, a olhar para o mundo e a chuchar naquela coisa horrível. Quando eu era pequeno, dizem os meus pais, era a lagarta mais gira das redondezas. E olhe que não é para me gabar, mas eu acho que eles têm razão.

[...]

Andei, claro que andei! Eu não sou nenhum analfabeto. Chama-se "Escola do Insectozinho Sábio". Tinha aulas de português, francês, inglês, matemática, história de encantar, ciências da bicharada e até nem era mau aluno, não senhor. Mas com aquela idade o que eu gostava de ser, quando fosse grande, era advogado.

[...]

Ah pois ganham! Muito bem até. E essa ideia não me largou até entrar para a "Escola do Sá Bichão", que é a escola para onde vão os bichinhos quando já são mais… espertos! Eu fui e pude escolher as minhas disciplinas preferidas que eram as línguas e a matemática… não, claro que não, que disparate! Eu não andava nas más línguas; eu tinha era aulas que me ensinavam a falar melhor.

Eu nunca fui muito lagartendo, não senhor. Uma vez apaixonei-me por uma. Era linda: a mais bonita do liceu. Mas ela nem sabia que eu existia. Pretendentes não lhe faltavam. Tinha-os à farta. Mas ela foi escolher o pior deles todos: o maior. Acredito mesmo que todos os dias ele vá para o quarto perguntar ao seu bastão de flyball: bastãozinho, bastão meu, existe no mundo, ou pelo menos nesta escola, insecto melhor que eu? O bastão diz que não. Não me admiro nada que ele dê com o bastão no primeiro que o contradiga e fique a dormir para sempre… bem, para sempre não. Só até que apareça uma abelha e lhe dê um beijo e vivam felizes até ao fim… o tal "final feliz" das histórias de encantar. Lagarto, lagarto, lagarto! Dessas histórias fujo eu. Não gosto, não são reais, não existem. Como é que se pode imaginar que exista felicidade plena, completa? Ninguém é feliz a tal ponto.

Comigo as coisas passam-se naturalmente. Sabem, já pensei em ser actor. Sim actor. Estão a rir-se? não tem graça nenhuma, eu estou a falar a sério. Sim, a sério. O que eu queria fazer era teatro, para começar, é claro. Ouvi dizer que estão a precisar de actores no Teatro Asa Dela para uma tragédia. Não suporto. Não suporto mesmo. De trágico já me chega a vida. Agora imaginem-me a fazer o papel principal numa peça policial...

Um zangão rico tinha duas filhas lindas. Sim, ambas lindas. Claro que tinham de ser as duas porque eram gémeas. O Zato era orgulhoso das suas duas filhas e era também muito, mesmo muito rico. Tão rico que ninguém imaginava a quantidade de mel que tinha. Risa era a sua rainha: trabalhava para ele, como todas as abelhas rainhas: fazia todo o trabalho na colmeia. Zato pagava-lhe pelo serviço: "tão pouco!". Sim, era pouco, uma miséria. Mas o que é que isso lhe interessava? Ela admirava-o, tinha-lhe respeito, era o zangão máximo, ela amava-o. Ninguém sabia. Só ela. O que os outros pensavam era que ela queria ser a rainha-dona da grande colmeia.

Sila e Lasi eram as filhas de ambos. Sila era adorável e Lasi era… detestável. Bom, nem tanto. Pode dizer-se que ela era a menina “bem”, cheia de peneiras.

Zono era o secretário-mor de Zato: vivia pregado a ele:

- Zono eu quero… - dizia Zato.

- Sim, imediatamente… - cumpria Zono.

-Talvez se nós… -tornava Zato.

- Mas, claro… - concordava Zono.

- Nunca! Como é que…

- Claro, claro. Como?… - novamente.

- Temos de.. - continuava Zato.

- Imediatamente… - outra vez Zono.

- Talvez… - Zato.

- Porque não? Tem razão… óbviamente… - como é óbvio: Zono.

Sempre assim. Claro que por detrás de toda esta lealdade havia gato. Ou Zato? Ninguém desconfiava. Zato, devido a toda esta confiança e lealdade, e tal como a sua mulher e suas filhas, havia incluído Zono no seu testamento, atribuindo-lhe parte, ainda que uma pequena parte, da grande riqueza. o que se tornava em muito.

A juntar a este elenco vinha outra personagem: Miss Libas - amante de Zato e que se encontrava com ele às escondidas.

Criados (quase todos) os ingredientes para se fazer uma pequena peça de teatro, dá-se então inicio ao espectáculo. É então que começa o primeiro acto.

 

 

 

 

Abelha ou azelha?

 

Zummmm! Ouve-se este estranho ruído. A colmeia parece um centro comercial, com tanto insecto a correr não se sabe para onde. Às páginas tantas, uma das salas da presidência da colmeia é centrada de atenções dos passeantes curiosos.

Um inspector, o Sr. Zunas, tenta, com a ajuda de duas moscas polícia, afastar aquela enchente. O detective é contactado não se sabe por quem e aparece no local onde não tinha sido chamado. No entanto, o seu instinto de detective diz-lhe que se devia meter. Está-se logo a ver quem era esta personagem inteligente, charmosa, sexy, linda, maravilhosa… o personagem principal. Ah, não se está logo a ver quem é? Claro que não é o Teimas Cruzado. Sou eu! É! Eu! Pois!

Lá ia eu a entrar no gabinete do presidente - o gabinete de Zato. Claro que assim que lá entrei me apercebi do que se estava a passar: tinha acontecido um insecticídio. O milionário tinha sido assassinado. E o assassino quem seria? A esta pergunta, o grande mistério, só um insecto no mundo (será?) podia responder: Zato. Para resolver, indubitavelmente só um: eu. Comecei logo por recolher dados e a investigar. Quem não gostou nada da coscuvilhice foi o inspector, que disse logo que era ele que resolveria o crime. Eu não dei ouvidos e prossegui com as investigações. Ele parou de me azucrinar as antenas e foi no seu caminho.

Entretanto soube que o facto havia ocorrido há meia hora, ou seja, às 16H45. Zato foi morto por um ferrão de abellha muito afiado. Ao lado do corpo do zangão fluía uma pequena mancha que analisei de imediato e rapidamente pude dizer: isto é mel. Realmente eu tinha duas pistas. O assassino possuia uma "pressora de ferrão" com a qual tinha morto Zato. O assassino tinha também acesso ao mel real da colmeia, por isso o leque dos suspeitos estava reduzido ao número de abelhas com permissão no recinto.

Entretanto uma abelha zumbe pela sala desatando a chorar. Era bela! Nunca tinha visto beleza tão incomum: pele sedosa, asas de princesa e… até tinha uma coroa na cabeça. Após a sua esvoaçante entrada outra igual figura apareceu. Eu pensei que estava, não bebedo, porque não o faço em serviço (ou fora dele), mas a sonhar.  Não estaria a sonhar? Duas? Iguais? Não é possível, pensei. Sim: iguaizinhas e à minha frente. Só a primeira estava a chorar, perante o corpo jazido no chão, ainda com o ferrão espetado no peito. A segunda limitou-se a olhá-lo:

- Podia ter sido muito pior, meu pai - balbuciou, quase em surdina mas não deixei de ouvir, com o ouvido astuto que tenho.

As palavras saiam, no entanto, geladas mas por outro lado verdadeiras no tom.

Zato, o rei, era pai das duas criaturas, quero dizer, princesas, Sila e Lasi. Sila chorava ainda, enquanto dois mosquitos enfermeiros tapavam o corpo do defunto e o metiam na ambulância, num ritual quase habitual a que respondiam gestos quase programados. Lasi, frívola e aparentemente intacta à morte do pai, desapareceu do local quase sem eu dar por isso.

Eu sabia que tinha de interrogar as meninas para continuar o processo e talvez encontrar mais pistas. Todas ajudam, nesta profissão. Aquele não era o momento e guardei para mais logo o interrogatório. Fui à procura de dados noutras paragens. Havia o secretário-mor e a rainha, ambos trabalhadores de Zato. Tinha de começar por alguém, por isso dei primazia à alteza.

Apresentados que fomos, gentilmente me recebeu na sala do trono onde, espantosamente, soube que morava sozinha…

- Eu gostava muito do Zato.

- Gostava? Como assim? - desconfiei eu.

- Pois, gostava. Já não gosto… quero dizer… ele morreu, não foi?

Boa resposta. Para não me desmanchar, lancei:

- Eu queria dizer, gostava como? De que modo?

- Ah… eu… sabe… sou um bocado tímida - deu para perceber - apesar de ser rainha e de ser considerada uma sex symbol pelos garotos zangões… - disse embaraçada a rainha.

- Mas isso não vem ao caso. Sei, por fontes seguras, que o seu salário na colmeia é miserável: o sr Zato dava-lhe praticamente… nada. Nicles! Ele só lhe dava quatro frascos de compota de frutos secos. Qual era o motivo que a levou a trabalhar tantos anos com este… este… miserável?

- Miserável não! Eu amava-o…

Apesar de não querer acreditar, soava a verdade. Como não posso acreditar só nos meus sentidos mas em factos…

- O quê? Você disse…

- Sim, foi o que ouviu: eu amava-o. E continuaria a ama-lo até ao fim da vida…

- Áhá! Até ao fim da vida "dele", não é assim? Porque depois de morto quem passaria a reinar na colmeia era você, não é? Confesse…

- Não! Posso ser tímida mas não sou louca. Era louca mas por ele e a verdade é esta: eu amava Zato sem pedir nada em troca… isso é amor…e agora, se não se importa, se já acabou com as acusações, eu vou-me…

- Só um momento: onde é que estava hoje por volta das 16H30, 16H45…

- Onde, senão no meu trono, poderia eu estar? Não posso largá-lo, sou a única que cria as jovens abelhas.

- Está muito bem, muito obrigado.

Agradeci enquanto me acompanhou até à saída. Abandonei a sala do trono e antes de fechar a porta dei uma última olhada para a bela rainha, que chorava duas gotas brilhantes a que se dá o nome de lágrimas. Injustamente, porque aquelas duas gotas eram duas pérolas resplandecentes. Por momentos tive pena da Risa. Mas este pensamento foi derrubado pelo meu ofício que não permitia tal sentimento. Por isso, tomei nota do seu depoimento, sem olhar, por enquanto, a se tal era ou não verdade. Parti para outra. Ou melhor, outro: o segundo suspeito.

Zono assumia o cargo de secretário-mor.

- Qual era a sua função junto a Zato? - comecei.

- Bem, eu… era… como um amigo intimo, confidente do Sr. Zato.

- Como assim? Não era um trabalho profissional?

-Claro… mas não havia lugar onde o sr Zato fosse, que eu não estivesse com ele.

- Era um fita-colas… - murmurei

- Um quê? Não percebi…

Não ouviu, foi o que foi. Nem era para ouvir. Disfarcei, quase atrapalhado:

- Um amigolas.

- Isso sim, talvez… é, pode ser: um amigolas.

- Mas qual a verdadeira razão que o levava a tal lealdade? Pelo que sei do cargo que você ocupa não se tira grande partido… ou estou enganado?

 

 

Ainda não acabou!

 

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